Estratégia desportiva nos 3 grandes

É difícil prever o que vai valer o nosso FCPorto na liga deste ano. Não será, no entanto, difícil de prever que é o candidato número 1 ao título. Todos os ‘especialistas’ o consideram como tal. Isto apesar de ter perdido 3 jogadores titularíssimos. No entanto, já nos habituamos a que a nossa estrutura resolva estas ‘consequências’ do nosso sucesso. Mas este ano houve mais problemas para resolver. Como encontrar alguém com a velocidade de Bosingwa? E alguém com o rigor táctico do Assunção? E a magia de Quaresma é substituível? Tínhamos 2 hipóteses: ou íamos buscar jogadores feitos com atributos semelhantes aos perdidos (como se isso fosse possível…) ou tentávamos encontrar jovens valores com potencial para em 2/3 anos renderem tanto como os que agora partiram. No entretanto resolvemos com os que já tínhamos no plantel. Tem sido esta a nossa política. Eu pessoalmente, e à primeira vista, acho sempre um risco contratar tanta gente tão jovem, e dá a ideia que se tem contratado mais em quantidade que em qualidade. Este ano parece estar a ser um pouco diferente e nota-se já qualidade nalguns reforços mas se olharmos para os reforços do ano passado, só o Mariano tem jogado… No entanto, olho para as políticas desportivas dos nossos 2 adversários directos e dificilmente encontro melhor.

Vejamos o Benfica, por exemplo. Têm uma necessidade extrema de mostrar que ainda são grandes. Para tal contam com uma imprensa que está sempre disposta a ajudar a instalar uma euforia generalizada. No ano passado foram buscar Cardozo um dos melhores jogadores do campeonato argentino por um dinheirão, contratando ainda o Di Maria e Adu duas das maiores estrelas do último mundial de sub-20. Mas a melhor contratação acabou por chegar pela porta pequena no último dia de inscrições e foi Rodriguez, um jovem desconhecido que tinha falhado redondamente a adaptação a esse colosso que é PSG… Resultado: perderam o campeonato por mais de 20 pontos, foram eliminados da Champions na primeira fase, e foram eliminados da Uefa pelo Estrela da Amadora de Espanha e a inconstância das ‘estrelas cintilantes’ contratadas só veio ajudar à festa. Aprenderam a lição? Lógico que não. Este ano, mantiveram a mesma política de contratação de ‘estrelas cintilantes’ mas com uma agravante, foram buscar jogadores a clubes europeus inflacionando consequentemente o dispêndio necessário na contratação e sobretudo agravando o pacote salarial de um clube que ainda há poucos precisou de ajudas, ainda pouco claras, da ‘implacável’ Manuela Ferreira Leite para ‘cumprir’ (ou não) as suas obrigações fiscais. Mas hoje em dia parece que dinheiro não é um problema naquelas paragens e o povo rejubila. O problema é que mais cedo ou mais tarde acaba o defeso e vêm os jogos a sério e o povo fica deprimido. Facilmente se perceberá porque é que as ‘estrelas’ não vingaram nos grandes clubes e que afinal a curva está já na fase descendente. Aliás 2 jornadas chegaram para assustar o mais optimista diabinho de tal forma que até já se descarrega as frustrações no cachaço dos árbitros... O que vale é que em Janeiro entram mais estrelas e dura a ilusão mais um mesito… Conclusão, tal como o Benfica, e apesar de termos mais credibilidade no mercado, apenas temos acesso ao refugo das grandes Ligas e parece bem menos arriscado recorrer a jogadores com potencial de ligas inferiores ou da nossa Liga do que estar à espera que ‘estrelas’ decadentes acordem de repente e que passem a valer o seu salário chorudo.

Já o Sporting também aposta mais em desenvolver talentos do que em grandes contratações. Investiu mais este ano mas apostou no conhecido. Postiga foi mesmo a contratação mais arriscada, já que Rochemback não engana mas também não dá muito mais do que o que se tem visto, continuando a ser um jogador lento e Caneira continuará sempre a ser um jogador polivalente mas insistente na mediania nas várias posições que ocupa. De resto foi investir na manutenção da equipa com os ligeiros ajustes já referidos. É claro que a grande aposta é nos talentos da casa. Já há uns anos que a estratégia gira à volta deles. São contratados jogadores para suprir as lacunas da formação e não o contrário. Até nem parece má a ideia. Economicamente faz sentido: os custos de formação são poucos, os salários dos jogadores são baixos e há sempre a possibilidade de os vender realizando mais-valias substanciais. Há até a possibilidade de desenvolver uma empatia generalizada da equipa e dos jogadores com uma identidade própria e valores do clube e consequentemente com os adeptos. Mas essa táctica tem falhado consecutivamente. Faltam títulos. É certo que recentemente o Sporting tem ganho umas taças e à custa das nossas exibições medíocres (recuso-me a falar em sorte). Mas e em termos de regularidade e consistência? Tem tudo a ver com o grau de exigência. ‘São miúdos e ainda têm tempo para aprender…’ O problema é que vão aprender noutro clube e nunca chegam a dar o seu pleno rendimento ao clube de formação. Outro problema é que em Portugal os adeptos se entusiasmam facilmente com dois ou três malabarismos de um dos miúdos (eu próprio alinho muitas vezes nessa onda). E a imprensa alinha nisso também. Ainda há dias via a desgraça dos sub-21 e dava por mim a perguntar: Que evoluíram Miguel Veloso, Manuel Fernandes e Paulo Machado nos últimos 2 anos? Qual é a diferença entre o Candeias e o Hélder Barbosa e o Vieirinha? Lançar miúdos é complicado e é também um risco grande. Basta ver os extremos que temos lançado na equipa principal que, mesmo entrando numa máquina bem oleada, têm dificuldades. Ainda mais difícil se torna se tivermos constantemente 3 ou 4 jovens na equipa titular. Temos um ou 2 exemplos de sucesso nos últimos anos e tem sido sempre esporádico. Até o Ajax deixou de fazer as suas gracinhas…

Conclusão, apesar de não ser perfeita, considero a nossa estratégia desportiva claramente superior à dos nossos adversários, o que mais uma vez me faz olhar para os exemplos lá de fora, nomeadamente o do Lyon. Já tivemos tempo e dinheiro suficientes para estarmos mais próximos daquela realidade, mas a verdade é que me parece que eles estão bem mais próximos da elite do futebol que nós. Sobretudo ao nível económico. Enquanto nos contentarmos meramente com o sucesso ao nível interno dificilmente evoluiremos para uma realidade onde seja possível passar um defeso sem vender duas ou três das nossas estrelas.

Comentários

Pispis disse…
"Aliás 2 jornadas chegaram para assustar o mais optimista diabinho de tal forma que até já se descarrega as frustrações no cachaço dos árbitros..."

Muito bom Prata, muito bom...
Lamas disse…
Só li agora o post miúdo... está muito bom, muito bem conseguido, uma interessante reflexão sobre a política de contratações dos três grandes...

Apesar de, como tu dizes, não ser a pior, a política de contratações do FCP é má... o jogo de bastidores faz trazer-nos contentores de jogadores... primeiro do Brasil, agora da Argentina... precisamos de mais portugueses, mais jogadores da casa, que sintam o FCP... basta dois ou três, mas que sejam as verdadeiras bandeiras do clube para que a mística nunca desapareça... que o FC Porto/Vitalis Park, agora inaugurado tenha como finalidade isso mesmo...